9.6.07

 

clima no g8...

por renato brandão; fotos Encontro do G8

A divulgação de três relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPPC) neste ano, alertando para as conseqüências alarmantes do aquecimento global no planeta para as próximas décadas, não foi o bastante para sensiblizar as lideranças do G8 (Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Rússia) - os países ricos do globo e também os maiores poluentes, que se reuniram para a 33º cúpula do grupo, em Heiligendamm (Alemanha), nesta semana...

O encontro produziu pífios resultados - embora isso não cause surpresa: basta acompanhar o histórico dos últimos encontros do grupo. Uma vez mais, a imobilidade foi causada pelos vetos do governo dos Estados Unidos...

Em verdade, a cúpula foi um grande fracasso. A idéia defendida pela anfitriã do encontro e chanceler alemã Angela Merkel de fixar metas mais objetivas, como a de levar os oito países a aceitarem 2C como limite para o aumento da temperatura média no planeta e, conseqüentemente, estipularem um compromisso real em cortar pela metade emissões de gases do efeito estufa até 2050...

A culpa deste fiasco pode ser atribuída principalmente ao presidente estadunidense George Walker Bush - que no final de maio deste ano disse que iria reunir os Estados Unidos e outros 14 países responsáveis pela maior parte das emissões de carbono (entre os quais África do Sul, Brasil, China, Índia, México, ou o G5-emergente) para um acordo de longo prazo que estabeleça novas metas até o final de 2008 para o corte da emissão de gases que agravam o efeito estufa - e de sua equipe, notadamente James L. Connaughton, do Council on Environmental Quality (CEQ), o conselheiro para temas ambientais da Casa Branca...

A diplomacia de Washington pressionou para que se cravasse na declaração "Growth and Responsibility in the World Economy" (Crescimento e Responsabilidade na Economia Mundial), item 49, o termo goal [objetivo] em lugar de target [meta]: "In setting a global goal for emissions reductions in the process we have agreed today involving all major emitters, we will consider seriously the decisions made by the European Union, Canada and Japan which include at least a halving of global emissions by 2050 [Ao fixarmos um objetivo global para a redução de emissões no processo que nós acordamos hoje envolvendo todos os maiores emissores, nós consideraremos seriamente as decisões realizadas pela União Européia, pelo Canadá e pelo Japão, que incluem ao menos reduzir pela metade as emissões globais em 2050]"...

A disputa semântica não é por acaso. Objetivo é diferente de meta. A primeira transita pelo campo vago dos desejo de ver algo se realizar algum dia, enquanto a segunda determinaria a obrigatoriedade de tomar ações em um dado prazo. Em outras palavras, em lugar do concreto, o G8 optou pelo abstrato...

Além disso, o comprometimento de "reduzir pela metade as emissões globais em 2050" já estava previsto em um documento do próprio G8, produzido em sua cúpula dois anos atrás em Gleneagles (Escócia)...

Ainda que os itens 52 e 53 lançam propostas para que a Convenção do Clima chegue a um acordo global em 2009 para substituir o Protocolo de Kyoto - e que este inclua metas para África do Sul, Brasil, China, Índia e México, isso é muito pouco ambicioso para um ano repleto de más notícias para o futuro do meio ambiente...

Também decepcionante foi a declaração conjunta do G8 e seus cinco convidados - os mesmos África do Sul, Brasil, China, Índia, México. Por sinal, o governo brasileiro insiste retoricamente em imputar somente ao G8 a árdua tarefa de enfrentar os processos de mudanças climáticas e prefere fazer marquetagem verde, ao propor que se realize em 2012 uma nova reunião climática nos moldes da Eco-1992, a tal "Rio+20", ou ainda propagandear os "benefícios" do álcool brasileiro...

Está explícito nos princípios da Convenção sobre Mudança do Clima que todas as nações do mundo têm responsabilidades comuns na questão climática, embora de formas diferenciadas - até porque não é fato que a responsabilidade histórica das grandes potências é muito maior que a do resto do mundo. No entanto se sabe que é fundamental a presença desses cinco países para um plano sério de redução de emissões, até porque são grandes poluidores globais. A China, como foi noticiado neste ano, deve tomar o primeiro posto dos Estados Unidos como maior poluidor do planeta...

Há quem veja avanços no fato do G8 abrir espaço em sua agenda para o tema das mudanças climáticas - e como principal pauta de um encontro do grupo. Mas sem produzir resultados práticos na cúpula de Heiligendamm, ou seja, sem documentos que estabeleçam o cumprimento de metas obrigatório pelos países reunidos no encontro, é difícil de imaginar que o comprometimento dos países ricos não seja mais que retórica...

O grupo vai acabar perdendo apoio até de Bono Vox, marqueteiro líder da banda irlandesa U2, que começa a perceber quão é difícil o G8 agir concretamente nas atuais estruturas. O próprio vocalista tinha caído nas promessas vazias dos líderes do grupo sobre perdão da dívida externa africana, na cúpula de 2005. Bono, que esteve no encontro deste ano para conversar com a chanceler alemã e participar de um concerto do evento, fez críticas ao G8 e se mostrou "deprimido"...

Enquanto as negociações entre os principais jogadores do planeta seguem emperradas, o mundo caminha para sua sina apocalíptica. E as reuniõezinhas das lideranças globais, entre as quais uma organizada pela Organização das Nações Unidas, outra por Bush e uma, que se pretende mais séria, na Indonésia, com especialistas da ONU a debater novos detalhes para um eventual acordo internacional pós-Protocolo de Kyoto, a partir de 2012...[r]

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