16.11.06

 

só um devaneio

por hugo fanton

O poder de mobilização midiática na crise dos aeroportos brasileiros conduz meus pensamentos a lugares tortuosos. A cobertura impressiona pela intensidade e cobrança de resolução imediata. Jornais mobilizam grande quantidade de repórteres para mostrar o sofrimento dos pobres usuários dos aeroportos brasileiros.

Além de apontar os problemas, cobra do poder público uma solução rápida. De forma até louvável, incomoda, com microfones e holofotes, aqueles que têm responsabilidade nessa crise que atinge em cheio a classe economicamente mais favorecida do país.

Tal poder midiático me faz ter dessas reflexões que a vida de gado não nos permite ter. Penso mais naquilo que a imprensa deixa de fazer do que nos resultados de sua atuação na crise aérea. Digo isso por me perguntar como seria o Brasil se o mesmo número de profissionais fossem mobilizados para, diariamente, retratar o descaso com a população nas escolas e hospitais públicos, por exemplo.

Imagino, vendo todos os dias belas mulheres desmanchando a maquiagem na espera por um vôo, como seria se a maioria dos jornais do país, impressos e eletrônicos, dessem o mesmo espaço a um paciente na fila de espera do SUS. Imagino ainda se eles procurassem os governantes para responder, a cada atraso num atendimento médico (para ficar só neste exemplo), o porquê do problema e quando haverá uma resolução. E ainda cobrar os responsáveis várias vezes ao dia.

Como minha imaginação vai longe, chego a vislumbrar a explicação tecnocrata de que a crise aérea afeta fortemente a economia, a resposta hipócrita de que prejudica nossa imagem no mundo e todo esse blá, blá,blá que teima em não reconhecer a miséria e o descaso com a maior parte da população como os grandes responsáveis pelo não-desenvolvimento do país.

Por fim, tento imaginar a serviço de quem a imprensa trabalha. Quais interesses ela defende. Mas nesse ponto percebo que estou indo longe demais e posso ser acusado de autoritário e de trabalhar contra a liberdade de expressão. Afinal, como posso ousar criticá-la?

Percebo como os devaneios são perigosos.

E volto a ser gado. [r]

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13.11.06

 

o senador e o sociólogo

por tadeu breda

Acredito que a mídia foge do xis da questão relativa à condenação do sociólogo Emir Sader. O manifesto, a indignação ou as opiniões favoráveis à liberdade de expressão não almejam apenas proteger a reputação do professor da Uerj. A crítica apenas traz à tona a questão do desequilíbrio na Justiça brasileira. O sociólogo ofendeu Jorge Bornhausen ao chamá-lo de "racista". Pode-se perfeitamente dizer que existe uma dose de racismo em acusações de racismo.

No entanto, se Sader foi punido por isso, o senador do PFL deveria ter recebido condenação semelhante. O banqueiro catarinense, afinal, caluniou e difamou o PT referindo-se a seus militantes como uma "raça" da qual o Brasil deveria ficar livre pelos próximos 30 anos. Foi essa desigualdade que gerou os protestos e o manifesto.

Não é uma questão de defender a patota esquerdista, mas de assegurar direitos iguais aos cidadãos brasileiros, independentemente de condição social ou ideológica. Não importa, como quer os muitos artigos e opiniões que ouço, se Emir Sader é entusiasta de Fidel Castro, bom professor, intelectual exemplar ou um enganador. O senador e o sociólogo definitivamente não podem ficar em situações diferentes perante a Justiça se cometeram o mesmo "delito".

A liberdade de expressão não é absoluta. Tem seus limites no respeito e na tolerância, na fronteira onde termina a opinião argumentativa e se inicia a ofensa e o ódio.
[r]

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