30.6.06

 

novamente e toda vez

por tadeu breda

A polícia matou mais treze pessoas na semana passada, desta vez em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. (Atente bem para as palavras grifadas a seguir.) Elas eram suspeitas de tramar um possível assassinato de agentes penitenciários. A maior parte delas foi executada próxima ao Centro de Detenção Provisória da cidade, onde montavam uma provável emboscada a alguns funcionários do presídio. Segundo os policiais, teriam resistido à prisão. Outros três fugiram, foram perseguidos e assassinados.

As palavras grifadas revelam o nível de autoritarismo e truculência da polícia que nos protege. Os autodenominados "agentes da lei e da ordem" matam pessoas suspeitas de praticar um crime que sequer aconteceu. Matam. Matar é diferente de prender, só o que eles deviam poder fazer. Porém, matando, eles julgam, sumariamente. E matar nada tem a ver com justiça. Tem um pessoal aí que pede pena de morte no Brasil. Fingem que pena de morte não existe. Sempre existiu por aqui. Nem nos países em que a legislação prevê cadeira elétrica, injeção letal e que tais o Estado mata tanto. Aqui está a polícia que mais mata no mundo, a carioca e a paulista.

São os tribunais de rua. Não escutam, não dão chance para defesa. Desprezam o princípio elementar do direito - todos são inocentes até prova em contrário. É um resquício nojento da ditadura, esses 20 anos de atraso por que passou o país. A PM era autoridade absoluta e na calada da noite e até agora não se tocou que vivemos numa democracia - pelo menos é isso que está escrito na Constituição. Seqüestrava e matava naquele tempo, seqüestra e mata hoje. Mata, acaba com uma vida.

Mas democracia não é só voto. Aliás, um de seus maiores preceitos é o respeito à vida, acima de qualquer coisa. Essas treze pessoas tinham direito à vida. Ou não? Por que não? Só porque eram suspeitas? Quem disse que eram criminosas além dos próprios soldados que as executaram? E se por ventura fossem criminosas, teriam de ser mortas? Afinal de contas, existe ou não pena de morte no país?

Infelizmente, ninguém jamais irá saber se elas eram culpadas ou inocentes de planejar a emboscada frustradas aos agentes penitenciários. Se a polícia os tivessem prendido, interrogado e principalmente investigado, quem sabe todos nós saberíamos, senão a verdade, algo mais próximo a ela. E mais um artigo sobre violência policial não teria sido publicado.

Não aconteceu assim. Se as coisas funcionam dessa maneira, aqui foi mais um texto. Novamente e toda vez que a vida for desrespeitada por aqueles que acreditam que, matando pobre, está cumprindo seu dever e prestando um grande serviço para o país. [r]

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29.6.06

 

jogo no anhangabaú: minha vez!

por júlia tavares


(escrito em 27 de junho, dia do jogo Brasil x Gana)


Nunca foi obrigada a olhar para uma orelha por 45 minutos seguidos. Tampouco para a careca branca de um rapaz que se mexia muito. Aliás, nunca pensei que levantar as mãos em direção à cabeça fosse um reflexo tão comum. E tão mal-educado, afinal, não leva em conta pessoas baixinhas que estão tentando, de todas as formas possíveis, enxergar um pedaço do telão durante os jogos da Copa em pleno Anhangabaú. Pois é. Em Brasil x Gana, foi a minha vez de matar a curiosidade de fazer parte da massa que aparece feliz da vida nos intervalos by Galvão Bueno.

Cinco minutos antes do início era tudo alegria. Já tinha descolado um cantinho perto da cerca de metal que dividia a multidão composta de brasileiros sem-teto, moradores de rua e trabalhadores que escaparam de bancos e órgãos públicos do Centro de São Paulo. Aliás, muita gente com cara de classe média também dava o ar da graça, como as meninas loiras com blusinhas do Brasil. Um camarote da Brahma no vale lembrava badalação patrocinada de carnaval. Tão Brasil...

Antes do apito inicial, no entanto, uma nova onda de gente encobriu os dois terços inferiores da visão do telão. A cabeça fazendo força para arrumar brechas. “Abaixa a corneta!”, gritávamos eu e as pessoas menores que 1,60m. Os homens altos ajudaram narrando alguns lances. O gol, por exemplo, foi um grande esforço de imaginação. Só sei que aconteceu porque o povo pulou e estourou rojões – já? Em cinco minutos? E dá-lhe objetos voadores perigosos no ar. Meu deus do céu: precisa lançar copo de cerveja?! Mas logo era jogo de novo, ou melhor, a careca e a orelha. Viro para um casal do outro lado da cerca: dá para ver daí? Dá sim, dizem. Bom, mas não dava pra chegar lá.

Quando abandonei os colegas cabeçudos para ver o segundo tempo em algum boteco, outro gol imaginário. Por sorte me levantaram para espiar o replay. Mas o pescoço estava tenso e os pés, um tanto dormentes. Saio com vários outros desistentes, enquanto um grupo maior entra e passa pela revista policial. Há sempre brasileiros malucos querendo beber do sentimento BRASIL-SIL-SIL... Certo eles.[r]

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