13.3.06

 

jean charles e gerry conlon: terroristas

por tadeu breda

Deu no jornal hoje que a polícia britânica está acusando o brasileiro Jean Charles de Menezes de estupro. O jovem eletricista, assassinado por agentes da Scotland Yard no metrô londrino após ter sido confundido com um terrorista, teria violentado uma moça inglesa no bairro de West End, capital do país, há cerca de três anos.

É no mínimo inusitado que uma informação como esta, ainda em fase de investigação, vaze das fontes policiais justo no momento em que o Reino Unido começa a reconhecer sua culpa pelo erro grotesco que cometeu e que algumas fraudes nos registros policiais sobre o caso começam a aparecer.

Não dá para afirmar se Jean Charles é culpado ou inocente do estupro - sabemos somente que terrorismo, motivo pelo qual foi brutalmente assassinado, ele não praticava. Isso tudo lembra uma outra injustiça cometida pelas autoridades britânicas durante a investigação de um outro caso - também de terrorismo, também em Londres. Em 1974, um pub na rua Guilford explodiu. As bombas foram colocadas pelo IRA (Exército Republicano Irlandês), que na ocasião pretendia vitimar alvos mlitares. À época, a organização estava no auge de sua luta pela independência da Irlanda do Norte, que até hoje pertence à Inglaterra. Além de política, a peleja também tem seu cunho religioso: os irlandeses são católicos, os ingleses, que governam o país, anglicanos. As hostilidades são históricas - e até o U2 fala disso numa de suas músicas, Sunday, bloody Sunday.

O atentado na rua Guilford matou quatro pessoas e deixou dezenas de feridos. O governo reagiu imediatamente e conseguiu prender quatro suspeitos, que ligaram os policiais a mais sete outras pessoas, potenciais especialistas em bomba. A Scotland Yard prendeu todos. O julgamento aconteceu em meio a uma imensa onda de medo, sede de justiça e histeria popular, que pedia a responsabilização e punição imediata dos culpados.

Essa história é narrada no filme Em nome do pai, indicado ao Oscar na década de 1990. Quem assistir vai poder ver a irresponsabilidade da polícia britânica, que sabia que todos os onze suspeitos eram inocentes e mesmo assim os condenaram. A tragédia envolvendo Jean Charles se assemelha muito ao drama de Gerry Conlon. Irlandês de Belfast recém-chegado a Londres, ele foi confundido com um terrorista do IRA e condenado à prisão perpétua como principal culpado pela explosão do pub.

Gerry também foi acusado de roubar uma prostituta antes de ser preso, o que, segundo a promotoria, desqualicava seus argumentos de inocência. Somente 15 anos depois (e depois de ter conhecido na cadeia o verdadeiro terrorista da rua Guilford), Conlon foi novamente julgado e libertado após sua advogada encontrar novas evidências (até então ocultas) nos autos de seu processo.

Seu pai, Giuseppe, também condenado por apoio ao terrorismo, morreu doente atrás das grades. Em fevereiro de 2005, 31 anos depois, o governo britânico reconheceu o erro através de uma carta. O sofrimento que todos eles passaram e o peso negativo que seus nomes carregam ainda não foram - e talvez nunca sejam - recuperdos. [r]

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Qual é a opinião de vcs sobre a invasão dos sem terra ao centro de pesquisa da ARACRUZ no RS, e aos atos de vandalismo que acabaram com equipamentos caríssimos e pesquisas de 20 anos.
 
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