25.5.06

 

foram 110

por tadeu breda

Foram 110. A polícia não poupou esforços para vingar os colegas mortos pelos ataques do Primeiro Comando da Capital na sexta-sábado-domingo-segunda em que a facção saiu da toca e meteu bala em bancos, bases, quartéis e viaturas, queimou ônibus e tocou o terror na cidade de São Paulo e alguns municípios do interior. Claro, causou medo na população.

Medo que, dois dias depois, se transformou em sangue nos olhos de uma polícia com o orgulho e a credibilidade ferida pelo episódio. Foram 110 os mortos nos dias de revanche. IML lotado de tantos corpos, muitos com traços de execução – tiros nas costas, nuca, coração, várias partes do corpo. Teve um com o pênis atingido, saiu na Folha de S. Paulo.

Até agora, 79 dos cadáveres são suspeitos de manter relações com o PCC – suspeitos. Ou seja, trinta por cento deles não tinham nada a ver com a história. É horrível transformar vidas humanas em números. Elas perdem, digamos, a humanidade. Quando lemos no jornal que tantos inocentes morreram, é mais do que necessário fazer essa associação: são 31 pessoas, que trabalhavam, levavam suas vidas na honestidade. Morreram sem mais nem menos. Por serem pobres? Por morarem na periferia? Por quê?

Ferréz, escritor que mora no Capão Redondo, um dos bairros mais abandonados da capital, nos narrou, na terça, algumas cenas que viu e ouviu perto da loja que tem no bairro. Foi gente descendo com touca ninja de viatura apagada, morte de um vendedor de flores, de entregadores de pizzas. Gente que trabalhava.

Numa boa, não é assim que o problema vai se resolver. A polícia não pode ter em seus quadros homens como estes. Foram 110 mortos em menos de uma semana. Atentem para o número: 110 mortos. É muita coisa.

Pena de morte, redução da maioridade penal, truculência, rigidez. Os conservadores de plantão têm de entender que mais violência nunca vai resolver a violência; que os direitos humanos não são privilégios ou caridade, são, como o próprio nome diz, direitos; que o Brasil está partido em dois e que a pobreza é um problema grave que demanda ações e discussões sérias e pensadas, não histeria.

De que adianta a classe-média paulistana fazer uma passeata na Avenida Paulista pela paz? A periferia continua carente de tudo, e uma passeata desse tipo não vai lhe garantir nada. É só a polícia que vai lá de vez em quando, e vira e mexe faz uma coisa dessas. Foram 110, 31 totalmente inocentes. 31.

Uma frase que não me sai da cabeça é a seguinte: “Só haverá paz para os ricos quando houver justiça para os pobres.” Vi pichada num muro aqui de São Paulo uma vez. Foram 110 mortos, 31 inocentes. Quando eles serão respeitados e tratados como gente? [r]

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comentários:
Tatazão, faltou você explicar uma coisa:

Se são 110 mortos, o que temos?

Um massacre do Carandiru, com um sobrevivente.
 
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