4.5.06

 

a nacionalização da petrobras

por tadeu breda

Sosseguem o nacionalismo. Não o boliviano, o brasileiro. A tônica da mídia e de uma boa parte dos compatriotas é agressiva para com Evo Morales Ayma, o presidente da Bolívia que tomou coragem e decidiu pôr fim à exploração transnacional aos recursos naturais do país.

Coragem, não para agir conforme manda sua própria cabeça, mas sim para atender aos suplícios do povo que o elegeu. O índio aymará, descendente dos incas pré-colombianos, foi eleito no primeiro turno, com mais de 50 por cento dos votos. Como o povo pobre que o colocou no posto máximo do poder, não usa terno. Se a nação é feita majoritariamente de indígenas e pardos, por que sempre foram os brancos que ocuparam o poder?

Não foi Evo, plantador de coca, que nacionalizou os hidrocarbonetos bolivianos. Foi o próprio povo do país, que derrubou dois presidentes no ano passado (Sanchez de Losada e Carlos Mesa). Os velhos padrões de governabilidade, as associações entre o governo e a iniciativa privada imperialista, membros da elite branca no poder, não lhes serviam mais.

Nas ruas, os bolivianos mostraram que a democracia no país não se limita ao voto – portanto, nunca esteve mais forte, mais direta. Evo não é nenhuma espécie de louco desvairado inconseqüente. Fez cumprir uma promessa de campanha: o fim do espólio dos recursos naturais. E não adianta dizerem que sem as transnacionais petrolíferas a Bolívia vai amargar uma tragédia sem precedentes. O país já é o mais pobre da América do Sul. 70 por cento dos bolivianos vivem na miséria. O pior que pode acontecer é a Bolívia permanecer como está – mas pelo menos terá soberania.

Se a iniciativa privada fosse benéfica, o país não estaria na situação em que se encontra. Evo tampouco seria eleito por um povo revoltado com a pobreza. O presidente fez o que todos os presidentes deveriam fazer: tomar posse do que já é do Estado, da população, mas que vem sendo usurpado em troca de um discurso global que acredita que ceder ao mercado é o único caminho.

Por isso Evo foi corajoso. Peitou o capital internacional e estabeleceu que, a partir de agora, as empresas que quiserem explorar o gás boliviano deverão ficar com apenas 18 por cento dos rendimentos. É um preço justo? Basta saber que a imensa maioria dos bolivianos usam fogão à lenha, mesmo vivendo em cima de muito gás.

A mídia brasileira, manipulando fatos e omitindo explicações, mostrou-se chocada com a atitude de Evo. Disse que Hugo Chávez está tramando contra nós e que, se o presidente boliviano admirasse Lula o tanto que diz admirar, não teria feito isso com o Brasil. Mas quem disse que Evo prejudicou o Brasil? Prejudicou a Petrobras, isso sim. E a Petrobras há muito deixou de ser do povo brasileiro. Não é mais estatal, é de capital misto. Tem investidores, um dos quais é o Estado. É uma empresa que pode até orgulhar o brasileiro, mas não vem agradando aos bolivianos.

A Petrobras age na Bolívia como qualquer outra empresa capitalista. A não ser pelo fato de ter realizado investimentos de risco no país, ela gera divisas para o Brasil às custas da exploração maximizada de recursos naturais alheios. Traz dinheiro pra cá, não pra lá. Por mais que se diga o contrário, beneficia a nós, não a eles.

Lula tem agora que escolher um caminho. Se for coerente, acatará a soberania boliviana e sentará para negociar com Evo uma nova porcentagem para a divisão dos lucros. Afinal, o boliviano fez o que Lula prometeu fazer, mas não conseguiu: mudar o país.

Já a mídia, só lhe resta atacar. É o que, com pequenas exceções, ela vem fazendo. E vai continuar assim. Afinal, os grandes jornais e emissoras de tevê têm ojeriza à soberania popular. Não querem de jeito nenhum que o povo seja dono de suas riquezas. Afinal, foram a favor da privatização da Vale do Rio Doce e da venda de grande parte da própria Petrobras. Se entregaram as riquezas do país aos estrangeiros, claro que vão querer espoliar o que é dos outros.

É o jogo do capitalismo global: ele me explora, eu exploro você, você explora aquele outro. Pobre de quem não tem quem explorar, caso da Bolívia, pobre dos pobres, que no dia 1º de maio resolveu tomar uma decisão contra essa palhaçada a que chamamos neoliberalismo. [r]

colaborou. renato brandão

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