29.6.06

 

jogo no anhangabaú: minha vez!

por júlia tavares


(escrito em 27 de junho, dia do jogo Brasil x Gana)


Nunca foi obrigada a olhar para uma orelha por 45 minutos seguidos. Tampouco para a careca branca de um rapaz que se mexia muito. Aliás, nunca pensei que levantar as mãos em direção à cabeça fosse um reflexo tão comum. E tão mal-educado, afinal, não leva em conta pessoas baixinhas que estão tentando, de todas as formas possíveis, enxergar um pedaço do telão durante os jogos da Copa em pleno Anhangabaú. Pois é. Em Brasil x Gana, foi a minha vez de matar a curiosidade de fazer parte da massa que aparece feliz da vida nos intervalos by Galvão Bueno.

Cinco minutos antes do início era tudo alegria. Já tinha descolado um cantinho perto da cerca de metal que dividia a multidão composta de brasileiros sem-teto, moradores de rua e trabalhadores que escaparam de bancos e órgãos públicos do Centro de São Paulo. Aliás, muita gente com cara de classe média também dava o ar da graça, como as meninas loiras com blusinhas do Brasil. Um camarote da Brahma no vale lembrava badalação patrocinada de carnaval. Tão Brasil...

Antes do apito inicial, no entanto, uma nova onda de gente encobriu os dois terços inferiores da visão do telão. A cabeça fazendo força para arrumar brechas. “Abaixa a corneta!”, gritávamos eu e as pessoas menores que 1,60m. Os homens altos ajudaram narrando alguns lances. O gol, por exemplo, foi um grande esforço de imaginação. Só sei que aconteceu porque o povo pulou e estourou rojões – já? Em cinco minutos? E dá-lhe objetos voadores perigosos no ar. Meu deus do céu: precisa lançar copo de cerveja?! Mas logo era jogo de novo, ou melhor, a careca e a orelha. Viro para um casal do outro lado da cerca: dá para ver daí? Dá sim, dizem. Bom, mas não dava pra chegar lá.

Quando abandonei os colegas cabeçudos para ver o segundo tempo em algum boteco, outro gol imaginário. Por sorte me levantaram para espiar o replay. Mas o pescoço estava tenso e os pés, um tanto dormentes. Saio com vários outros desistentes, enquanto um grupo maior entra e passa pela revista policial. Há sempre brasileiros malucos querendo beber do sentimento BRASIL-SIL-SIL... Certo eles.[r]

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