6.6.06

 

MLST dá um tiro no pé de todos os sem-terra

por rafael sampaio

O canal Globo News acabou de transmitir uma reportagem sobre a invasão do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) ao Congresso Nacional. As imagens da Globo mostram que eles destruíram a entrada, quebraram computadores e desejavam empurrar um carro (!?!) dentro da Câmara.

Eles planejavam entregar um documento ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo, mas foram barrados pela segurança da Câmara. Então partiram para a violência. Quantos ficaram feridos na manifestação? Essa é a pergunta para a qual eu gostaria de resposta.

Outra coisa: agora retrocedemos mais uns passos no caminho para a reforma agrária. A mídia, o PSDB, o PFL, a UDR e todos os latifundiários não vão perdoar a esquerda pelo ataque desse grupo. Aguardem a próxima capa da "revista Veja", retratando todos os sem-terra do Brasil como marginais.

Devo dizer que o MLST rachou com o MST já nos anos 80. Mas para a imprensa isso não importa. São sem-terra acima de tudo. Serão tratados como "bárbaros" pela imprensa, "revolucionários" pela esquerda radical (PSTU e adjacentes); mas acima de tudo estão iludidos, e foram usados como "massa de manobra" de lideranças políticas acima deles.


Haverá, ainda, muita exploração política do caso, podem ter certeza. Incluindo transmissão das imagens nas propagandas eleitorais do PSDB e do PFL.

Pergunto: essa é a esquerda que queremos?! Violenta e destrutiva? Não creio. Foi um tiro em nosso pé e justo num momento decisivo, em que é necessário posicionar-mos com relação à candidatura do governo Lula para exigir que ele cumpra, no próximo mandato, as demandas dos movimentos populares e da esquerda.

PS: a foto publicada no blog não é da invasão propriamente dita ao Congresso (pq não há fotos na internet ainda).

A imagem é do ano passado, quando o MLST ocupou o Ministério da Fazenda e bloqueou todas as entradas e saídas.
Pra quem quiser ler mais, há uma
reportagem sobre a ocupação, publicada no Wikinotícias. Basta clicar neste link, que dá para a notícia. [r]

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comentários:
Esse texto traz consigo um discurso que só não é conservador porque partidarizado. Vejo, Rafael, que você esteve mais preocupado em desbacar o MLST (do qual eu nunca havia ouvido falar, diga-se) frente ao MST do que realmente criticar a "atitude violenta" dos manifestantes.
Primeiro porque, se vc realmente estivesse incomodado com a forma de protesto escolhida, teria também escrito algo para meter o pau no MST quando este invadiu a Aracruz junto com as mulheres da Via Campesina. Afinal, elas "destruíram" pesquisas de mais de 20 anos. Uma violência. Quebraram estufas, que são feitas de vidro, assim como a porta da Câmara.
Segundo, o problema da cobertura pela mídia está, vejo eu, na mídia conservadora, não nos movimentos sociais. O próprio texto em que vc se baseou para escrever seu comentário pode ter tido o viés conservador típico da Globo. Vc também não teceu qualquer comentário sobre a "violência" do MST durante a invasão da Aracruz, que teve o mesmo tratamento que este ato em Brasília terá. Talvez até maior, porque o MST é infinitamente mais representativo do que o MLST -- que, queira ou não queira, também são sem-terra e têm todo o direito de serem chamados assim.
Terceiro, chamar o povo do MLST de "massa de manobra" não vai ao encontro de uma construção verdadeiramente democrática de Brasil. Não acho que o povo é bobo ou que vai e vem ao sabor das palavras de seu líder. Vão porque acham que devem ir. E, no caso, por que foram? Ah, vc também não chamou as moças do MST de massa de manobra quando do episódio da Aracruz.
Violência é algo que todos devem evitar, principalmente os movimentos sociais. Já estigmatizados pela mídia, eles ficam pintados como vândalos e vagabundos quando empreendem atos como este. Isso, no entanto, é mais uma estratégia de esconder, por trás da "violência desses grupos", os problemas que eles levantam. Discutir seria custoso e desagradável à elite.
Se eles resolveram fazer esse tipo de protesto é porque acharam que ele seria mais adequado. Quer dizer, eu duvido que eles tenham ido à Câmara com a intenção de quebrar tudo.
Pode ter sido um erro estratágico, autismo, falta de visão política e midiática? Sim, pode. Mas isso não esconde o problema da reforma agrária, da mesma forma que a invasão da Aracruz não deveria ter escondido a devastação ambiental provocada pelos desertos verdes de eucalipto. A mídia escolhe o que mostra. Vc fez a sua escolha.
 
Da mesma forma como eu considero o ato do MLST um desrespeito aos sem-terra que fazem a luta diária por uma reforma agrária de fato, condeno o quebra-quebra na Aracruz. A exposição do caso das mulheres da Via Campesina na imprensa jogou no limbo da memória do espectador médio qualquer notícia sobre ações pacíficas do MST. O que hoje sabe o público brasileiro sobre a Marcha pela Reforma Agrária? Sobre a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes? Sobre o número de assentamentos no país?

Pergunte a qualquer pessoa e eles responderão que lembram do MST pelo ato ocorrido na Aracruz. A direita gaúcha explorou bem o caso e inclusive fez passeatas contra a reforma agrária que tiveram espaço na mídia, se bem me lembro. Os dois atos - MLST e Via Campesina - não trouxeram benefício algum para a luta brasileira pela reforma agrária.

Se esse é o seu argumento, fico feliz em respondê-lo. É bom discutir esse tema no blog, e vai render outro artigo em breve, já que esse foi feito no calor dos acontecimentos.

Agora, quando você usa um bordão jornalístico como esse - "a mídia escolhe o que mostra. Vc fez a sua escolha" - me soa como se você quisesse me acusar de conservador. Me desqualificar. Não acho que levando as coisas para um lado pessoal poderemos acrescentar nenhum argumento ao debate.

E se sua tentativa era a de me ofender, sinto dizer que não conseguiu. Só me admiro que você, que conheço há um certo tempo, tenha tomado essa atitude.
 
sem ofensas, mano. só argumentos.
 
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