2.6.06

 

negros denunciam extermínio racial


CONFERÊNCIA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
por tadeu breda

A aliança entre racismo e violência foi um dos temas abordados no segundo dia da Conferência Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que teve início no dia 31 de maio e vai até 2 de junho, em Brasília. Representantes do movimento negro e quilombola, promotores e justiça e policiais sentaram para discutir o que chamaram de “extermínio dos jovens negros” na sociedade brasileira.

Por extermínio entende-se “a morte sistemática por balas letais, tiros na cabeça, nuca, tórax, como acontecia na década de 70, com a atuação da Rota, e que teve continuidade com os esquadrões da morte, a Scuderie Le Cocq”, diz Deise Benedito, do movimento Fala Preto, de São Paulo.

Para Deise, existe um projeto político que vigora no país desde a abolição da escravidão, em 1888. “A população jovem trazida da África para trabalhar nas minas e fazendas de cana-de-açúcar perderam seu valor econômico com o fim do regime escravocrata”, explica. “Com a imigração, o colono europeu passou a ter acesso à escola e ao trabalho, enquanto que para o negro não houve políticas públicas de moradia, saúde ou educação.”

A militante faz eco com as palavras do ex-delegado carioca Hélio Luz, que no documentário Notícias de uma guerra particular (1999) diz que a polícia faz “política de repressão” e “mantém o pobre na linha, pagando imposto e sem reclamar”. Deise afirma que o projeto branco da sociedade brasileira estigmatiza como inimigo o negro jovem, desempregado e morador de favela.

A criminalidade entra, então, como uma alternativa de vida aos adolescentes pobres das grandes cidades. “As crianças estão mergulhadas num cenário de colaboração entre o tráfico e os moradores. O Estado até agora entrou apenas de forma paliativa, omissa, corrupta e perversa”, declara Carmem Silveira, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal.

Polícia

Apesar das críticas constantes ao papel da polícia, membros da corporação estiveram presentes à discussões. Um deles é o sargento Absolon, da PM baiana, que exibe com orgulho recortes de jornal sobre sua atuação comunitária junto às crianças de Vitória da Conquista. Ele, que diz fazer o policiamento desarmado, afirma que a maior missão da polícia é implantar os direitos humanos. “Temos um projeto em que crianças, adolescentes e seus familiares vão pra dentro do quartel jogar capoeira e conhecer a função do policial. Chegamos a ter, de 1995 a 1997, mais de mil alunos.”

No mesmo tom conciliador, o tenente-coronel Rivaldo, da PM goiana, coloca que “o objetivo da polícia é a defesa da vida. Mas hoje a corporação enfrenta uma agressão social”. Segundo ele, colocar a polícia em pólos negativo (ou positivo) ou os defensores de direitos humanos em pólo positivo (ou negativo) é errado. “A gente não tem que polarizar, tem de mudar comportamentos.”

Existe uma troca de farpas bastante intensa entre defensores dos direitos humanos, policiais e opinião pública. Uns são acusados de “defender bandido” ou de “humanistas”, outros de “assassinos” ou “defensores da ordem”, conforme o contexto social.

Nessa discussão, os ataques do PCC à polícia paulista se transformaram num marco, a todo momento lembrado. A onda de violência chegou a mudar até mesmo a tônica da CNDH, que originalmente discutiria o modelo econômico neoliberal mas acabou se rendendo à segurança pública. [r]

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