1.6.06

 

secretário fica nervoso e erra
ao responder críticas sobre transporte

por rafael sampaio

Os moradores de São Paulo têm razões para reclamar do transporte público da cidade. Existem 3.318 ônibus velhos circulando pelas ruas paulistanas, de acordo com a Secretaria Municipal dos Transportes (SMT). Estes ônibus - que são 22,12% da frota - têm mais de dez anos, a idade máxima até que devam ser trocados por veículos novos. Tal limite de idade está estabelecido em todos os contratos firmados entre a prefeitura e as empresas concessionárias das linhas de ônibus.

O Secretário dos Transportes, Frederico Bussinger, argumenta que é preciso rever os contratos. “Esta lei dos dez anos é burra”, diz ele, exaltado. O nervosismo pouco a pouco tomou conta das respostas de Bussinger, que também é engenheiro. Ele chegou a ficar com o rosto vermelho e elevou o tom de voz. O Secretário equivocou-se, ao mencionar a última renovação da frota de ônibus em 1996 e usar repetidamente a palavra “2006” para se referir ao ano citado.

Após este instante de exasperação, em que chegou a sugerir que só 1.500 ônibus estão velhos, desmentindo as informações da Secretaria, Bussinger respondeu que pretende substituir gradualmente a frota antiga até que acabe o mandato do prefeito Gilberto Kassab (PFL).
Só em 2006, a SMT pretende trocar 689 veículos “caducos”. Outra solução apontada pela Secretaria é o uso de um “selo de qualidade dos ônibus”, que será colocado atrás do banco do cobrador, para que os próprios usuários verifiquem se os veículos estão em bom estado.

Para Bussinger, há ônibus com dois anos que estão em péssimas condições e outros, com dez anos, que ainda podem ser usados sem problemas. Por isso a lei dos dez anos “é burra” e precisa ser modificada. A Secretaria justifica a quebra da regra dos dez anos com a afirmação de que ela é comum a todas as gestões anteriores da prefeitura.

“Quando José Serra assumiu, ele herdou cerca de 800 ônibus velhos da gestão anterior”, argumenta o Secretário. Para ele, se os 3.318 ônibus fossem adquiridos imediatamente, a prefeitura pagaria um valor estratosférico para cada veículo. “Este custo, se houver, será pago com o aumento de tarifas dos usuários”, brada o secretário.

Problemas

Além do envelhecimento da frota, há problemas como a retirada de inúmeros ônibus de circulação, o sucateamento dos que restaram, a superlotação dos pontos de embarque e o excesso de trânsito.
Existem cerca de 15 mil ônibus na cidade, mas, segundo o vereador Antônio Donato (PT-SP), que integra a Comissão de Trânsito e Transporte da Câmara Municipal da cidade, houve uma redução na frota feita às escondidas. Na apuração feita pelo vereador, a prefeitura fez um acordo informal com as concessionárias e permitiu que fossem retirados 8% dos ônibus em circulação (1,2 mil) para diminuir o gasto das empresas. “O acordo da prefeitura é irregular e quebra o contrato entre o poder público e a iniciativa privada”, reclama Donato.

O Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores do Transporte Público de São Paulo avaliou, em 2005, que a frota havia sido reduzida em 3%, ou 441 veículos.

Para o ex-Secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, que foi colega de Bussinger quando os dois trabalharam para a gestão de Marta Suplicy, há uma série de problemas acumulados pela pasta. “Cresceu o engarrafamento no trânsito e a superlotação dentro dos veículos nos horários de pico, e a SMT não têm sabido lidar com isso”.

Mudança de planos
Zarattini crê que a solução para a superlotação e o engarrafamento é a continuação do projeto dos corredores de ônibus e dos terminais de transferência pela cidade, iniciados durante a gestão anterior. “Não se pode desfazer este projeto. O [Frederico] Bussinger participou da elaboração dele durante o mandato da prefeita Marta. Eu não entendo porque ele quer abandoná-lo”, diz.

O programa elaborado durante a gestão petista prevê a instalação de cinco eixos de corredores de ônibus para 2005, quatro para 2006, totalizando 325 quilômetros exclusivos para os ônibus até 2008. No entanto, nem um metro de corredor foi entregue no ano passado.

Só duas obras estão previstas no ano de 2006: o Corredor Expresso Cidade Tiradentes, conhecido como “Fura Fila”, e o prolongamento do Corredor Ibirapuera. Segundo Zarattini, a opção da prefeitura em levar as duas obras adiante é um erro, porque o Fura-Fila é muito caro. “É uma ‘herança maldita’ da gestão [de Celso] Pitta”, avisa.

Ele questiona também a política da prefeitura quanto ao uso do bilhete único. “Os benefícios sociais da população, como a chance de usar quatro ônibus por duas horas, estão sendo pouco a pouco cortados na atual gestão da prefeitura”, reclama.

Zarattini critica ainda o cadastramento do bilhete único realizado pela SMT. Para ele, quem perde são os cidadãos mais pobres e ignorantes, que não se cadastram para andar pela cidade e chegam a gastar seis reais para sair dos bairros de periferia onde vivem. “A SMT quer ‘tirar o couro’ dos mais pobres e aumentar seus rendimentos com o dinheiro deles.”

Já o atual Secretário dos Transportes comemora o cadastro. “Há cerca de 2,8 milhões de cidadãos cadastrados. As fraudes diminuíram quase a zero”. Ele não nega que ainda haja fraudes, mas estipula uma redução de sete milhões de infrações por mês com o uso do bilhete único cadastrado.

Bussinger é a favor do bilhete único, que trouxe benefícios econômicos à população e levou “mais de 500 mil pessoas a usarem o transporte público em vez de automóveis”. Mas sem o controle do cadastro, na opinião do engenheiro, “o risco de fraudes é grande”.

Trânsito
A Secretaria dos Transportes planeja resolver o problema do trânsito paulistano pelo corte de linhas de ônibus. De acordo com Bussinger, há superposição das linhas e muitas fazem trajetos parecidos. Há excesso de veículos em alguns itinerários e escassez em outros. Ele anunciara, em março, a redução de 37,7% das linhas de São Paulo, de 829 para 315. “Estudos mostram que quanto maior o número de ônibus circulando pelas ruas, mais caótico e congestionado fica o trânsito”, detalha.

Existem determinadas metas que Bussinger espera cumprir até o fim do seu mandato. Uma delas é a de alocar, no máximo, seis usuários de ônibus por metro quadrado de espaço no veículo. Outra meta é garantir que qualquer pessoa tenha que esperar no máximo 15 minutos por seu ônibus. Por último, o Secretário espera que, no futuro, nenhum munícipe tenha que andar mais do que 500 metros para chegar até um ponto de ônibus.

Não há, entretanto, qualquer sinal de que o “programa de racionalização” vá ser implantado, ou que será possível alcançar as tais “metas”. A própria Secretaria, ouvida pela reportagem, silenciou sobre o programa de racionalização. “A população ficará a par das mudanças conforme elas vierem a ser feitas”, informou, em nota oficial, a SMT. [r]

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