9.6.06

 

violência daqui, violência dali

por tadeu breda

Violência nunca é bem-vinda. Verbal, física, psicológica, moral, não importa. Ela quebra com a ordem democrática, despreza o diálogo e rememora épocas em que se resolviam os conflitos antes do surgimento da política. Prejudica o interlocutor. Por isso, socos, pontapés e ofensas devem ser deixados de lado em prol do debate civilizado. O confronto deve ser sempre o das idéias, nunca o da força.

O que aconteceu na terça-feira na Câmara dos Deputados é triste e perfeitamente repudiável, porque violento. No entanto, a ação do MLST (Movimento pela Libertação dos Sem-Terra) não deve ser analisada somente pelo viés do quebra-quebra empreendido em Brasília.

As imagens são fortes e apelam para isso. Um carro sendo empurrado pra dentro do Congresso, uma moça destruindo terminais de computador, vidros quebrados, seguranças saindo de maca. O que já é aterrador por si só fica pior com os comentários da repórter da Globo. “Eles não têm medo de mostrar o rosto”. Transformam os manifestantes em bestas tresloucadas com apetite destrutivo.

Parto do princípio que nenhuma ação é gratuita. O MLST não foi até Brasília com o intuito de arrebentar com tudo, tampouco empreendeu a invasão forçada por gosto, porque é acha divertido entrar estourando as coisas. São pessoas. Pensam. Em sua maioria, são politizadas. Sabem que tudo aquilo é patrimônio público. Não podem (como nenhum ser humano pode) ser chamados de massa de manobra.

A mídia dá maior espaço para o que de negativo os movimentos sociais fazem, na clara tentativa de denegrir sua imagem. Mas a tevê não explica as condições em que vivem ou como são tratados para que suas ações desemboquem em atitudes extremadas como a de terça-feira.

Por exemplo: o latifúndio que expulsa os trabalhadores da terra é uma violência? Vejo que uma única pessoa (ou família) deter milhares de hectares de terra é uma violência. Deixar o solo sem uso ou plantar eucalipto ou cana-de-açúcar em áreas imensas enquanto tem gente morrendo de fome é uma violência. Matar sem-terra que estão buscando terra pra trabalhar (porque não são vagabundos) é uma violência.

E violência, aprendemos ainda na primeira série, gera mais violência. Na cidade é assim, no campo não poderia ser diferente. Dá (sempre dá) nisso que vemos na telinha.

***

E que partido mais estranho é o PT. Levou mais de um mês pra expulsar Delúbio Soares, ponta-de-lança do mensalão, mas defenestrou Bruno Maranhão, um dos participantes do ato de terça, em menos de 24 horas. [r]

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comentários:
O que mais me revolta é que a "opinião pública" não existe, apenas a imposição do pensamento único dos que mantem a mídia tal como é.
 
Triste tudo isso Tadeu... concordo sobre a questão da violência. E quanto à chamada opinião pública (difícil conceituar com precisão isso) que se informa pela TV nem sabe o que é edição de imagens... apenas vê. E o visto passa a ser o real.
Valeu pelo texto!
Continuem.
 
opinião pública é mesmo um mistério. eu ainda penso que a opinião pública é feita de opiniões que conseguem ser publicizadas, que saem do universo particular de indivíduos e grupos e ganham a esfera da sociedade. logo, a opinião pública é a opinião de quem pode (não de quem quer) publicizá-las: a elite, portanto. ela tem os meios, domina a grande imprensa, fala a todos os brasileiros, principalmente pela tela da globo.
a opinião pública existe, sim, marília. mas é esta coisa que vemos por aí, conservadora. triste, principalmente porque é tomada como pensamento de toda a sociedade.
 
Gostei muito do texto, mas já sinto falta de um novo. Passo a comentar por aqui, já que ao vivo ficou impossível... Beijos.
 
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