30.11.06

 

orgulhosamente luso!

por marcos angelim

Apesar de estar longe dos holofotes da mídia esportiva desde que foi rebaixada nos campeonatos Brasileiro e Paulista, a Lusa até que foi lembrada em virtude da vitória sobre o Sport Recife (PE), na Ilha do Retiro, que lhe garantiu a permanência na Série B do nacional.

Ao contrário de equipes como Guarani (SP), Paysandu (PA), Vila Nova (GO) e São Raimundo (AM), a Portuguesa de Desportos não chegou ao fundo do poço.

Após ver a vitória da minha Lusa sobre o time pernambucano e vibrar como nunca diante da tevê, saí para a rua envergando a camisa 10 rubro-verde, onde vários amantes do futebol vieram me cumprimentar pelo não-rebaixamento. "A Lusa não pode cair!", "Tem de voltar pra primeira divisão ano que vem...", diziam. Minha felicidade por não ter caído (sim, o torcedor cai junto com seu time!) somou-se ao prazer de constatar o quanto a Portuguesa é querida.

Infelizmente, porém, esse carinho não é o amor que poderia levá-la a contar com uma torcida imensa, como as de outros clubes brasileiros. É um sentimento meio envergonhado, enrustido, que tem muito a ver com o antilusitanismo explícita e implicitamente difundido no Brasil – uma aversão tão forte aos lusitanos que leva muitos descendentes diretos de portugueses a omitir suas origens.

Mania de perseguição, caro leitor? Peguemos um exemplo - só um entre tantos:

Segunda-feira, 27 de novembro, esbravejando diante das imagens das enchentes que ocorreram em São Paulo, o apresentador (chamá-lo de jornalista seria ofender a categoria) do programa Brasil Urgente, exibido pela TV Bandeirantes, José Luiz Datena, atribuiu aos portugueses a responsabilidade pelos problemas brasileiros. Enchentes, incompetência das autoridades, parco crescimento econômico, baixa qualidade da educação no Brasil, criminalidade, tudo culpa dos portugueses, que roubaram o Brasil, levaram toda nossa riqueza, blá, blá, blá...

Talvez o senhor Datena não saiba nada sobre as teorias econômicas predominantes à época colonial e a respeito do sul dos Estados Unidos da América, dos nossos vizinhos hispânicos e dos países caribenhos colonizados por holandeses – todos subdesenvolvidos e colônias de exploração no passado.

A verdade, quer nos orgulhemos disso ou não, é que o povo brasileiro tem em sua tripla matriz racial básica o sangue lusitano, o que faz da maioria de nós descendentes daquela gente que, na esteira do desenvolvimento capitalista, deixou sua terra além-mar para tentar uma vida melhor desse lado do Atlântico.

Aqui, desde os primórdios da imigração portuguesa, ajudou a construir o Brasil, sujeitando-se a todos os tipos de trabalho. A mãe do sociólogo Florestan Fernandes, por exemplo, o criou trabalhando como empregada doméstica em São Paulo...

Mas voltemos ao futebol. A Portuguesa, pelo próprio nome e por agregar em sua torcida milhares de portugueses e luso-descendentes, é, muitas vezes, discriminada dentro e fora das quatro linhas. Ao contrário do Vasco da Gama (RJ) e do Palmeiras, fundados por portugueses e italianos, respectivamente, a Lusa ainda é vista por muitos como um time de colônia, meio estrangeiro, apoiado por uma pequena torcida formada por luso-brasileiros, o que explica, em parte, a prática dos árbitros de roubá-la descaradamente.

Escapar da Série C jogando fora de casa foi uma grande vitória, mas há desafios maiores pela frente. Além de trabalhar duro para voltar à elite do futebol brasileiro, a Portuguesa precisa reformar seu estatuto de modo a aumentar a transparência administrativa e a participação dos torcedores; profissionalizar sua administração, que atualmente está entregue a pessoas pouco preparadas para gerenciar o clube (só esse ano, a diretoria contratou mais de 70 jogadores – um absurdo); recuperar suas finanças; e afirmar-se como um time brasileiro para brasileiros de qualquer origem, acabando com a pré-noção de que para torcer pra Lusa o sujeito tem de ser português ou descendente direto de lusitanos.

Espero que a vitória sobre o Sport Recife seja o início da recuperação da Lusa, um time que deve voltar a imprimir sua marca na história do futebol brasileiro não apenas como revelador de craques, mas como um clube combativo e campeão! .

Vamos à luta, ó campeões!...[r]

Marcadores:



comentários:
FICOU SHOW DE BOLA !

PARABÉNS !
 
O antilusitanismo existe desde os tempos do Brasil Colônia, mas é um sentimento alimentado muito mais pela ignorância do que por uma hipotética rivalidade entre brasileiros e portugueses - povos vinculados pelo sangue. Infelizmente até nas escolas o antilusitanismo é alimentado por professores mal formadosque reproduzem idéias sem fundamento.
 
Belo Post!!!!
Vamos acabar com esse racismo irrustido e elevar o bem maior comum... o respeito!
E viva a LUSA!!!!
Rumo às 1ªs divisões do Paulista e Brasileiro e rumo à Tóquio 2008 (caso estejamos na copa do Brasil em 2007 mesmo!).

Abraços do camarada,
Fabião
 
Postar um comentário



< início

This page is powered by Blogger