7.1.07
barbaridade?
por tadeu breda
Um dos sobreviventes daquele ônibus da Itapemirim queimado no Rio de Janeiro disse, em entrevista à Globo, que os criminosos responsáveis pelo incêndio foram embora como se nada tivesse acontecido, frios, impassíveis. Não é demais lembrar que sete pessoas morreram carbonizadas no episódio.
Antes de engrossar o coro dos especialistas, governantes, autoridades e cidadãos comuns que pedem pulso firme e mão forte, acredito que mais urgente, eficiente e necessário é pensar um pouco a realidade das pessoas responsáveis por tal ato, brutal e desumano a nossos olhos. Sim, aos nossos olhos. Porque no deles, na cabeça dos facínoras (para usar a expressão do presidente Lula), certamente não existiu brutalidade em atear fogo num ônibus de turismo e queimar sete pessoas inocentes até a morte. Ou existiu – e eles estão pouco se lixando pra isso. Talvez porque esses jovens nasceram e cresceram na periferia, talvez porque a realidade da periferia não seja, digamos, suave como a nossa.
Certamente esses jovens já se chocaram com a morte tanto quanto (ou mais do que) nós com esse último ataque do crime organizado. Nos chocamos porque é uma das primeiras vezes que vemos coisas do tipo – vimos também em São Paulo, nos idos de maio. Eles, eles não. Já se cansaram de perder amigos e conhecidos na guerra silenciosa que mata muita gente nos recantos mais afastados da periferia – pelas mãos da polícia, do tráfico ou de cidadãos comuns que estreiam no crime para vingar adultérios, brigas mal resolvidas, jogos de futebol, enfim, casos banais que poderiam ser solucionados de muitas outras formas se não houvesse uma arma de fogo na parada.
É de conhecimento público: as vítimas preferenciais de homicídios no país são jovens de 15 a 24 anos, negros, pobres, moradores da periferia. Desta forma, não podemos simplesmente esperar, do alto de nossa inclusão social, que os jovens absorvidos pelo tráfico tenham visões semelhantes de brutalidade. Mesmo porque o jovem da favela foi criado numa realidade brutal o tempo todo, quando levou a primeira geral violenta da PM, quando o pai foi despedido do subemprego, quando o primo bateu na mulher, quando o vizinho foi encontrado morto com 12 tiros na cabeça do lado da porta de casa, quando o irmão foi preso, enfim.
Portanto, é muito fácil sair por aí garganteando que queimar ônibus e carbonizar inocentes é uma barbaridade sem fazer essa diferenciação. É um crime hediondo, claro que é. Mas, para quem?
Antes de mudar a legislação, consolidar o Regime Disciplinar Diferenciado, pregar a pena de morte ou tipificar o crime de terrorismo no Código Penal, bem antes, talvez seja melhor começar a prestar mais atenção no outro Brasil, naquele que não aparece na televisão. Ou que só aparece quando acontecem essas... barbaridades[r]
Um dos sobreviventes daquele ônibus da Itapemirim queimado no Rio de Janeiro disse, em entrevista à Globo, que os criminosos responsáveis pelo incêndio foram embora como se nada tivesse acontecido, frios, impassíveis. Não é demais lembrar que sete pessoas morreram carbonizadas no episódio.
Antes de engrossar o coro dos especialistas, governantes, autoridades e cidadãos comuns que pedem pulso firme e mão forte, acredito que mais urgente, eficiente e necessário é pensar um pouco a realidade das pessoas responsáveis por tal ato, brutal e desumano a nossos olhos. Sim, aos nossos olhos. Porque no deles, na cabeça dos facínoras (para usar a expressão do presidente Lula), certamente não existiu brutalidade em atear fogo num ônibus de turismo e queimar sete pessoas inocentes até a morte. Ou existiu – e eles estão pouco se lixando pra isso. Talvez porque esses jovens nasceram e cresceram na periferia, talvez porque a realidade da periferia não seja, digamos, suave como a nossa.
Certamente esses jovens já se chocaram com a morte tanto quanto (ou mais do que) nós com esse último ataque do crime organizado. Nos chocamos porque é uma das primeiras vezes que vemos coisas do tipo – vimos também em São Paulo, nos idos de maio. Eles, eles não. Já se cansaram de perder amigos e conhecidos na guerra silenciosa que mata muita gente nos recantos mais afastados da periferia – pelas mãos da polícia, do tráfico ou de cidadãos comuns que estreiam no crime para vingar adultérios, brigas mal resolvidas, jogos de futebol, enfim, casos banais que poderiam ser solucionados de muitas outras formas se não houvesse uma arma de fogo na parada.
É de conhecimento público: as vítimas preferenciais de homicídios no país são jovens de 15 a 24 anos, negros, pobres, moradores da periferia. Desta forma, não podemos simplesmente esperar, do alto de nossa inclusão social, que os jovens absorvidos pelo tráfico tenham visões semelhantes de brutalidade. Mesmo porque o jovem da favela foi criado numa realidade brutal o tempo todo, quando levou a primeira geral violenta da PM, quando o pai foi despedido do subemprego, quando o primo bateu na mulher, quando o vizinho foi encontrado morto com 12 tiros na cabeça do lado da porta de casa, quando o irmão foi preso, enfim.
Portanto, é muito fácil sair por aí garganteando que queimar ônibus e carbonizar inocentes é uma barbaridade sem fazer essa diferenciação. É um crime hediondo, claro que é. Mas, para quem?
Antes de mudar a legislação, consolidar o Regime Disciplinar Diferenciado, pregar a pena de morte ou tipificar o crime de terrorismo no Código Penal, bem antes, talvez seja melhor começar a prestar mais atenção no outro Brasil, naquele que não aparece na televisão. Ou que só aparece quando acontecem essas... barbaridades[r]
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comentários:
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Tadeu, li e reli esta matéria e fiquei muito sensibilizada com esse assunto , com o qual concordo plenamente. Sou vítima de violência , mas acredito que se houver vontade política, é possível cuidar desse outro Brasil, tão esquecido.
Tomei a liberdade de citar teu artigo em meu blog, com o devido crédito, caso não se importe.
abraço, garoto
Tomei a liberdade de citar teu artigo em meu blog, com o devido crédito, caso não se importe.
abraço, garoto
Realmente é preciso, mais do que olhar para o outro Brasil, transformá-lo radicalmente, mas isso não vai acontecer da noite para o dia, a não ser que haja uma revolução, como a Cubana ou a Chinesa. Como nada disso parece estar em curso em nosso país, medidas de repressão mesmo, de combate a atos como esse, devem ser tomadas urgentemente. Se as leis já são duras, que sejam aplicadas! Todos reconhecemos os problemas socias que engendram o quadro de violência que vivemos, mas o combate ao crime "organizado" deve ser feito com inteligência e determinação. Parece discurso de psdebista, mas não é. O fato é que os problemas sociais levam tempo a resolver e que, enquanto não se resolvem, não podemos permitir o crescimento da violência.
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