17.3.07

 

e o brasil, com o que vai contribuir?

por renato brandão; fotos Agência Brasil




O presidente Lula culpou os "países ricos" pela tragédia que vem sendo anunciada há anos. Em declarações recentes, Lula
afirmou que
o mundo rico está cansado de assinar protocolo. Em cada conferência mundial, todo mundo assina o documento, mas eles não cumprem, porque não têm coragem de enfrentar as indústrias poluidoras...

Nas negociações para uma segunda etapa do Protocolo de Kyoto, o Brasil, aliás, impediu um consenso em torno de quanto seriam as emissões causadas pelos desmatamentos. Esta forma seria responsável por emissões de 0,5 bilhão a 2,7 bilhões de toneladas por ano (faixa que corresponderia a 7% a 25% das emissões globais). Mas José Domingos Gonzalez Miguez, do Ministério da Ciência e Tecnologia, bateu pé e exigiu que o número ficasse em 1,6 bilhão de toneladas anuais (15% das emissões mundiais)...

Amazônia
Segundo a organização não-governamental Greenpeace, o Brasil é o quarto maior emissor de gás carbônico por essa via
[1]. Estudo do Instituto Vita Civilis mostrou que 75% das emissões brasileiras advém dos desmatamentos, especialmente na região amazônica - ainda que o Brasil tenha níveis per capita de emissão de países em desenvolvimento [2]...

O governo brasileiro reluta em reconhecer a nossa indiscutível contribuição com o aquecimento global, especialmente da Floresta Amazônica, que possui uma vegetação muito sensível a aumento da temperatura global - previsto em pelo menos 2C pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Esta elevação poderá levar a perda de cerca de 40% da floresta, que seria substituída por savanas (como são os atuais cerrados brasileiros)...

De 1972 à 2002, 600 mil km2 desmatados da floresta foram devastados, sendo que 1/4 do que foi desmatado se encontra hoje abandonado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
[3] - área equivalente a Alemanha e Itália juntas...

O Ministério do Meio Ambiente comemorou no ano passado a queda de 30% nas taxas de desmatamento em 2006 em relação a um mesmo período no ano anterior, que também havia apresentado uma queda de 30% em relação a 2004. Estas estimavas foram também feitas pelo Inpe. O problema da última análise é que ela foi realizada com base em somente 34 das 220 imagens necessárias para cobrir toda a Amazônia brasileira...

Isso representou a destruição de 13.100 km² de florestas entre setembro de 2005 e agosto de 2006 - uma superfície maior que a da Jamaica. Algo que não deve ser comemorado, ainda mais porque os recentes desmatamentos ocorreram principalmente pela expansão desenfreada do agronegócio (com a pecuária extensiva ou a agricultura intensiva)...

O desmatamento ilegal precisa ser muito mais combatido pelo Estado. E estas reduções nos últimos dois anos mostram que a destruição da floresta pode ser evitada quando o Estado se faz presente. O próprio governo precisa acabar com algumas contradições no trato com a questão, já que incentiva e investe em atividades destrutivas na região, ao invés de contribuir com o manejo sustentável da floresta...

Claro que não basta "fazermos" a lição de casa. Se as emissões globais continuarem aumentando e não forem freadas, não haverá salvação para grande parcela da Amazônia...

Outras regiões
O IPCC prevê também aumento de extremos no Brasil. O Semi-Árido terá secas mais freqüentes (e diminuirá dramaticamente a disponibilidade dos já minguados recursos hídricos da região), que poderão gerar os "refugiados do clima"...

Já o Sudeste terá chuvas intensas (ainda que não ocorra uma elevação no volume total de precipitação no ano) e potencialmente teremos aumento das enchentes, de doenças como a leishmaniose e a leptospirose, entre outros problemas bem conhecidos das populações das grandes cidades da região...

Sem planos
Mais grave ainda é o país não tem um plano de adaptação para a mudança climática. As políticas brasileiras neste campo "
são insuficientes", afirmou o físico Luiz Pinguelli Rosa, professor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe) e Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, para a Folha de S.Paulo...

No mesmo jornal, o pesquisador peruano José Marengo, pesquisador do Inpe alertou que a "
mudança climática já está aqui. Não tem mais o que combater. Temos de avaliar a situação e propor medidas para poder reduzir o prejuízo"[4]...

O Brasil usa matrizes energéticas mais "limpas" como as hidrelétricas, mas a termeletricidade tem crescido. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê a importação de carvão mineral (um derivado de combustíveis fósseis!) para as termelétricas atuais e as que serão construídas...

O PAC prevê investimentos em infra-estrutura na região amazônica. É um novo problema para o Brasil: já há bastante desmatamento e queimadas na Amazônia, o PAC não vai trazer mais riscos para a floresta? Ou o governo vai mudar suas políticas públicas, implementando uma política de desenvolvimento em favor da diversidade da região, com investimentos em ciência e tecnologia nas áreas desmatadas e freando a expansão das fronteiras agrícolas? A Alemanha começou a reduzir suas emissões, sem afetar seu crescimento econômico. E o Estado brasileiro, que historicamente tem demonstrado incompetência e falta de vontade política para lidar com a questão do desmatamento amazônico?...

Etanol
O uso do álcool combustível é tido como vantajoso e é usado em larga escala no Brasil de modo que o CO2 emitido é reabsorvido no crescimento da cana. O problema é se o aquecimento global começar a ser usado como uma justificativa para mais desmatamentos no país, seja na Amazônia ou outras regiões do país - como desejam usineiros sedentos pela expansão da cultura de cana de açúcar...

Um dos exemplos nefastos é que o aumento da produção de álcool em Alagoas coincide com o ápice do desmatamento neste Estado. Se já é questionável transformar terras, originamente destinadas ao plantio de alimentos, para a produção de energia, mais grave ainda é que isso seja feito em nome do aquecimento global...

Aliás, é muito estranho que o governo deixe o setor do álcool ser regulado pelos usineiros. Como bem sugeriu o jornalista André Trigueiro, da CBN, o Brasil precisa criar uma Canabras (versão Petrobras para que o setor canavieiro)...

Esforço
De qualquer forma, o Brasil precisa dar passos importantes para um real esforço internacional para a redução dos gases que causam o efeito estufa. O governo brasileira precisa assumir sua responsabilidade como grande emissor do planeta. A começar, combatendo o desmatamento da Amazônia e promovendo políticas públicas que estimulem a redução do consumo de energia, especialmente entre as classes média e alta, as grandes consumidoras do país. E no mais, tem de tomar coragem para assumir um papel de destaque no cenário internacional. Para tanto, terá de aceitar que países emergentes também tenham metas de redução de poluentes...
[r]

Leia também: quanto tempo ainda iremos perder?

Notas
[1]Ver notícias nos portais do Greenpeace e 360 graus per capita. 15 de novembro de 2006
[2]Ver notícia Agência Brasil. 1 de junho de 2005.
[3]Ver notícia Inpe. 26 de outubro de 2006
[4]Ver matéria no jornal Folha de S.Paulo Adaptação: A crise climática pega Brasil desprevinido e Infra-estrutura urbana e saúde pública deverão ser repensadas. 03 de fevereiro de 2007.

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