3.9.07

 

viagem ao brasil de lá, parte 4

por fábio brandt

Chegamos na Base Aérea do Aeroporto de Guarulhos por volta das sete horas. Aguardamos a chegada do avião que nos levaria a Manaus até as nove, porque ele saiu de sua base, em Brasília, naquela mesma manhã.

Estávamos todos ansiosos. No ônibus que nos levou ao aeroporto ninguém cochilou. Foram conversas, piadas, comentários sobre a Amazônia. Até cantamos algumas músicas. Sem participar da nossa farra, os militares se habituavam a nossa presença: estavam no veículo um sargento, que não viajou conosco, e o tenente-coronel Douglas, um dos responsáveis pelo Centro de Comunicação Social do Exército, que organizou a viagem e nos “guiou” no Amazonas.

A chegada do avião coloca fim a espera ansiosa. É o VC-97, o mais moderno turboélice fabricado no Brasil, segundo a fabricante Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.). Apelidado de Brasília, o avião é, usualmente, utilizado pela FAB para transportar comitivas de autoridades (o roteiro que fizemos na Amazônia é, usualmente, oferecido a deputados e senadores).

Quase duas horas depois, paramos na cidade de Brasília para reabastecer. Foi a primeira vez que pisei na capital brasileira. As novidades explodiam por todos os lados. Junto com o Luiz Prado, que também estuda na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), dei uma volta pela Base Aérea de Brasília, que funciona junto ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek e foi inaugurada em 3 de dezembro de 1963 – quatro meses antes do golpe que derrubaria João Goulart e colocaria o alto escalão das as Forças Armadas no comando do poder executivo brasileiro.

O fato de circularem apenas militares pelo local, talvez faça com que a vigilância não seja acirrada. Aproveitamos a deixa para entrar num hangar, onde estavam alguns aviões desmontados ou em conserto. Mesmo com carta branca para fotografar o que quiséssemos, como assegurara o coronel Douglas, sentíamos que era necessário agir rápido.

Enquanto eu tirava da mochila a Yashica manual e procurava as pilhas para colocar no flash, um oficial nos expulsou do lugar.

– Com quem vocês estão?
– Tenente-coronel Douglas.
– Não há autorização para fotografar aqui, podem olhar, mas sem tirar fotos.

Atravessamos o Hangar e, para nossa surpresa, saímos, novamente, na pista de decolagem. Bastava um simples raciocínio para entender que sairíamos ali, mas estávamos, realmente, deslumbrados com o que víamos e com o fato de estarmos pisando, livremente, naquela área militar. Ali, na pista – ou seja, fora do Hangar - fui fotografar, sem o flash tão trabalhoso de fazer funcionar.

– Ow! Pode parar. Não pode tirar foto aqui.

Dessa vez era um jovem militar, não um oficial como nosso primeiro interlocutor. Respondemos que não sabíamos da restrição (pela segunda vez) e voltamos à sala de aguardar o avião. Dissemos ao coronel Douglas sobre a proibição, lembrando-o de sua promessa de poder fotografar tudo.

– Nem tudo... Há coisas sigilosas.

Não discutimos. Dirigimo-nos a outro Hangar, menor que o primeiro, mas também com aviões desmontados ou em construção. Ali, um oficial nos viu preparando a máquina fotográfica. Deu bom dia e, simpaticamente, ofereceu-se para explicar o trabalho que realizavam ali. “Manutenção das aeronaves”. Designou um soldado para nos acompanhar enquanto fotografávamos.

Após quase duas horas, estava na hora de voltar ao avião, já abastecido. Em Alta Floresta, cidade do norte do Mato Grosso, quase fronteira com o Pará, realizamos nova parada para abastecer. Ali, a base aérea não funciona em um aeroporto. Entre imensas fazendas, ela é apenas ela.

Não houve tanto tempo, como em Brasília, para andarmos pelos arredores. Mesmo que houvesse, duas horas não seriam suficientes para vermos mais que casas espaçadamente distribuídas ao longo de imensas ruas de terra, perdidas entre árvores e distantes de tudo o que podemos associar aos chamados “centros urbanos”, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e, até mesmo – só que em menor grau, como pude concluir nessa viagem – Manaus.

Como fazemos com aquelas cochiladas que nos levam a algum mundo estranho em horário de ficar acordado, abandonamos Alta Floresta como quem continua curioso para saber qual rumo a narrativa do sonho seguirá. Duas horas depois, lá pelas oito da noite, sentíamos o tapa na cara com que Manaus recebia nossa comitiva: trata-se da temperatura de 40º, quase o dobro da que estamos acostumados em São Paulo.
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