9.6.06

 

altos e baixos de um furão
ou às margens da alegria

por hugo fanton, desde frankfurt

Um dia em que aconteceu de tudo. Conversas com ídolos, ameaça de prisão, uma negativa desoladora e uma meta atingida. Vivi muitas horas de briga entre a tristeza e a alegria, entre meu lado profissional e meu lado torcedor.

Quarta-feira fui à Königstein com uma grande esperança: conseguir uma credencial para cobrir os treinos do Brasil. Estudante de jornalismo que sou, gostaria muito de participar da cobertura da Copa. Torcedor fanático, queria ver os craques da seleção de perto.

Assim que cheguei, os representantes da cidade me informaram ser o Rodrigo Paiva, assessor de imprensa da CBF, o único que poderia me dar a credencial. Fui, então, ao centro de treinamentos do Brasil à procura do assessor. Tentei entrar no local reservado a jornalistas, mas os seguranças me barraram. No caminho de volta, encontrei Tostão, para quem pedi, sem sucesso, o telefone de Paiva. Minha última tentativa na entrada principal foi o Fernando Calazans.

Muito solícito, o colunista chegou até a pegar um papel com meu telefone, para entregar a Paiva. Saí de lá extremamente agradecido pela disposição do Calazans, mas certo de que não receberia a ligação.

Ao deixar a entrada principal do centro de treinamentos, parecia que a sorte voltara. Encontrei uma grade aberta, sem policiais por perto, e rapidamente entrei. Havia mais barreiras à frente, porém já bem perto dos jogadores. Cheguei ao lado oposto da zona mista, onde os craques da seleção davam entrevistas. Nesse momento, o Hugo jornalista simplesmente ignorava o torcedor. Estava com o ídolo Ronaldinho na frente, mas apenas gritava: Rodrigo Paiva, Rodrigo Paiva!

Não consegui falar com o assessor. Andei, então, pela escola que contorna o CT e achei um último portão aberto, já no gramado. Entrei, mas um cachorro me denunciou. Cerca de cinco policiais vieram correndo me pegar e continuei caminhando, como se nada estivesse acontecendo. Fui parado já próximo dos jogadores. Dessa vez, não tinha conversa. Os seguranças acionaram a polícia para me prender.

Já nervoso, gritei pelo nome de Paiva, na última tentativa de conseguir a credencial. E, como que por milagre, fui atendido. Entretanto, o golpe final no meu sonho de jornalista veio com a resposta: “Não posso te arrumar a credencial. Faria alguma coisa se pudesse te ajudar”.

“Você pode me ajudar, sim! Não deixa me prenderem, por favor!”, respondi.

Paiva, além de me livrar dos policiais, disse que eu poderia ver o treino. Sentado no melhor lugar da arquibancada, meu lado torcedor não conseguia vencer a batalha contra meu lado jornalista. Assisti triste à apresentação dos jogadores, lamentando estar de fora do Mundial.

O mais interessante era que eu, sem credencial, estava no melhor lugar para ver as movimentações. Pela proximidade com o campo e pelo silêncio (estava só, apenas com alguns funcionários da CBF) pude ouvir até as conversas dos jogadores.

O ambiente da seleção pareceu ser o melhor possível. Durante todo o treino ouvi brincadeiras entre as estrelas do Brasil. Ronaldo e Adriano faziam piadas entre si e com Júlio César. Certa hora, Ronaldinho deu um passe bem longo a Cafu, enquanto outros jogadores gritavam: “é um garoto”, “olha como corre”. Já Robinho, ao sair do treino, desafiou Roberto Carlos a enfrentar suas famosas pedaladas. O lateral fugiu do desafio ouvindo gritos de “arregão” vindos dos jogadores que faziam alongamento.

Ronaldo foi um dos primeiros a sair de campo. O Hugo jornalista voltou à tona e fiquei na esperança de entrevistá-lo. Foi aí que aconteceu o mais interessante. A presença do ídolo trouxe a intimidação que muros, seguranças e policiais não tinham despertado em mim. Estava decidido a falar com o jogador, mas o Hugo torcedor dizia: é o Fenômeno. Isso me intimidava.

Ouvi, então, o craque comentar com assessores que não estava com muita vontade de dar entrevistas. Foi o suficiente para o fã vencer a batalha psicológica e eu desistir. Antes de ele sair, ainda falei:

- Ô Ronaldo, essa Copa é sua, você vai arrebentar!

- Obrigado, respondeu.

A alegria de um torcedor voltara. Vi todos os jogadores passarem a poucos metros. Quando o treinador chegou perto, perguntei:

- Depois da Copa vai pro Timão, né Parreira?

- Vamos ver - disse sorrindo o comandante da seleção.

Ao deixar o local, bastante contente por ter conversado com ídolos, um assessor de Paiva me disse para não voltar a fazer aquilo. O “jornalista” frustrado voltara a dominar meu ser. Assim, as duas faces de uma mesma pessoa seguiam numa eterna briga. O torcedor triunfante e o repórter que falhara disputavam por qual sentimento me dominaria. Até eu encontrar o editor do saite Trivela.com, Carlos Eduardo Freitas, para quem contei meu dia. Freitas insistiu que eu não deveria ficar triste, já que tinha uma boa história. “Era, outra vez, a alegria”. [r]

Marcadores:



comentários:
cara, uma das melhores matérias do reverso até agora. e acho que a melhor história.
 
Oi Hugo, como um pouco baina que sou posso dizer "QUE MASSA!!!", mas como tia prefiro "ESSE É MEU SOBRINHO"
bjusssssssss
Tia Ângela
 
Hugão!!! Que máximo!!!! Esse é o espírito de torcedor brasileiro!!!!

Uma ótima Copa p vc e logo muitas outras historias virão, né... afinal a Copa está apenas começando!!!!

Ah, pega um autografo do Beckhan p mim tá!!!! Ahuahuahua!!!!

Saudades de vc!!!

Bjinhos,

DRI
 
He he garoto!!! Que fantástico ler vc primo, adorei mesmo. Fui imaginando vc passo a passo, parabéns!!! Ótima copa e continue a me enviar suas odisséias, é um prazer. bjos fer
 
ótimo texto, mto bom mesmo. Parabéns
 
Mandou bem, Hugo! Teu texto tá do caralho e essa experiência deve ter sido muito boa.

Mas escuta, tu não estava fazendo uns freelas pro Lance? Lembro de ter lido uma reportagem que você escreveu pra lá, direto de Frankfurt.

Imagino que a imprensa tem que pagar uma nota pra cada jornalista que acompanha os jogos, mas enfim, nada impede de você fazer umas matérias pra eles sobre os torcedores, os turistas, as massas nas ruas das cidades alemãs etc.
 
Ótima história. Ó-T-I-M-A!!!
 
Postar um comentário



< início

This page is powered by Blogger